39 mais uns... O Môfo da existência!

Andava eu desesperada para ver este filme - motivo: a par de Diego Rivera e Frida Kahlo, considero Mondigliani um dos génios da pintura do Séc. XX - e dou com o FILME no clube de vídeo. Vou toda gulosa para o alugar e levo um "estalo" como resposta: Só temos esse e está fora! Saí de lá a deitar fumo pelas ventas! Ontem o meu marido foi levar uns vídeos que eu tinha alugado e fez-me o miminho de me trazer "MONDIGLIANI". Não é todos os dias que se vê um filme com um actor extraordinário como Andy Garcia, sobre um génio da pintura, e com uma história incrível.

Mondigliani conheceu Jeanne Hébuterne estando ela na condição de aluna de arte. Ele era um personagem vicioso, excêntrico, mulherengo, debochado... por isso não se percebe se foi amor à primeira vista (já que ele namorava outras mulheres). Mas parece que Jeanne era a sua MUSA. Ela engravidou dele, e depois vem a treta toda dos papás que não deixam eles viverem juntos por causa do bébe. (viveram 3 anos juntos até à morte de ambos)
Eu por mim fiquei deliciada com aquele covil, uma mistura de café-taberna onde em 1919 se juntavam todos os génios da altura tais como Picasso ou Rivera. Mas Mondigliani era o mais fogoso e aguerrido (ao ponto de serem várias as discussões entre ele e Picasso). Quem ama a arte sente-se transportado para dentro do écran, sente os cheiros, bebe o vinho, participa das conversas, ouve a música e senta-se na mesa com estes fabulosos pintores.

Mas apesar de ser uma biografia de um grande pintor, não é disso que trata o filme. Os italianos souberam traduzir toda a essência "Sabem o que é o Amor? O verdadeiro Amor? - A CÔR DA ALMA". Sim trata-se de uma história de amor indiscritível. De um pintor que ama a sua arte a ponto de negar pintar para quem tem dinheiro mas não merece ter um dos seus quadros. Trata-se de um amor entre um homem e uma mulher que apesar de amarem a filha, veêm-se separados dela para ficarem juntos, na pobreza, na arte.
De um homem que sabe que tem um ano de vida devido á tuberculose e mesmo assim casa-se com a sua amada que está de novo grávida. Trata-se de um homem que apesar dos seus princípios, participa num concurso de pintores porque precisa de dinheiro, não para si, mas para as crianças. E este é um homem que se negava a participar e no entanto sabia que ia ganhar!

Aqui as minhas buscas foram infrutíferas para encontrar o quandro com que Mondigliani ganhou o concurso. Jeanne tinha este vestido, mas não tinha o colar e a pose dela era até ao regaço onde abraçava a sua gravidez.
Mondigliani não chega a assistir à sua glória. Para Jeanne Hébuterne, Mondi era toda a sua vida, por isso suicida-se, matando também o filho no seu ventre. São os três sepultados juntos.
De resto, já toda a gente calcula quanto custará agora um quadro de Mondigliani!
O meu marido perguntou-me se eu tinha gostado do filme, e eu disse um "sim" sumido porque as lágrimas ainda me escorriam na cara.
ESTE POST É DEDICADO À MINHA IRMÃ SÓNIA.
O Mondigliani que eu tenho na sala não é uma cópia de um original. É um quadro pintado pela minha irmã que prestou tributo ao pintor preferido dela. Os traços dela estão lá, a alma dela está lá.
E quando tu, irmã, dizes que temos medo ou "falta de tomates", eu respondo-te: nós temos arte na alma. E a arte não lida com prazos, orçamentos, cobranças. Por isso eu chorei... nós temos talento Sónia!

Um beijo muito grande para ti